Oséias
era profeta de Israel, filho de Beeri (1.1), viveu durante a “era de
ouro” do reinado de Jeroboão II e segundo uma tradição cristã, pertencia
à tribo de Issacar. O nome “Oséias” era comum nos tempos do Antigo
Testamento e significa “ajuda” ou “livramento”. O nome é derivado da
palavra hebraica que significa “salvação”. “Jesus” ou “Yeshua” é uma
forma desse nome (Mt 1.21).
O
seu livro sugere em muitas particularidades, que Oséias era natural do
Reino do Norte/Israel. Foi contemporâneo de Isaías, Amós e Miquéias. Seu
ministério começou durante o ministério de Amós ou talvez pouco depois.
Sendo natural do Norte, conhecia as más condições existentes em Israel,
isso deu peso especial a sua mensagem.
Oséias
foi profeta em Israel durante o século VIII a.C., e com a possível
exceção de Jonas, foi o único profeta escritor do Reino do Norte.
A
prostituição de Israel e a quebra da aliança “conjugal” com Deus,
aliadas as ameaças da ofensiva assíria, levaram Oséias a profetizar. Ele
deve ter começado seu ministério pouco depois da morte do rei Jeroboão
II (753 a.C.). Sua missão no Reino do Norte, provavelmente terminou
quando Salmaneser V da Assíria invadiu Israel, saqueou Samaria e
deportou mais de 27 mil israelitas para a Mesopotâmia (722 a.C.; conf.
2Rs 17.1-34). É provável que a mensagem de Oséias tenha sido escrita
entre a data em que o rei Menaém pagou tributo a Tiglate-Pileser III da
Assíria em 739 a.C. (5.13; 8.9; 12.1) e a queda de Samaria em 722 a.C.,
já que Oséias não menciona este acontecimento. Se Oséias está fazendo
alusão ao conflito siro-eframita de 735-734 a.C., nas passagens de 5.8 a
6.6, isso pode ajudar a especificar a data da composição do livro.
Deus
mandou Oséias se casar com uma prostituta chamada Gômer, filha de
Diblaim. Oséias foi pai de três filhos da infidelidade de Gômer –
Jezreel, Lo-Ruama e Lo-Ami. As circunstancias do casamento de Oséias são
essenciais para seu ministério profético, já que o comportamento de sua
esposa simbolizava o adultério de Israel e a quebra da aliança com
Javé.
O
livro de Oséias é o primeiro da coleção de obras proféticas mais
curtas, denominada “Os Doze” na Bíblia hebraica. Atualmente os doze
livros são chamados de Profetas Menores. Estes livros estão em ordem
quase cronológica, das quais Oséias, Amós, Jonas e Miquéias situam-se no
começo do Período Neo-Assírio (meados e final do século VIII a.C.).
Naum, Habacuque, Sofonias e Obadias são datados do período neobabilônico
(final do século VII a.C.). Os outros, Joel, Ageu, Zacarias e
Malaquias, são considerados profetas do Período Persa (500 a.C.).
ESFERA DE AÇÃO
Os acontecimentos históricos a que se refere o livro de Oséias cobrem um período de mais ou menos 60 anos.
CONTEXTO DA ÉPOCA
O reinado de Jeroboão II é considerado, muitas vezes como a era de ouro do Reino do Norte. A base para o renascimento político e econômico da nação foi lançada pelo pai de Jeroboão, Jeoás. Antes Jeoás havia liderado três campanhas militares bem-sucedidas contra os sírios ou arameus (2Rs 13.25), libertando Israel da vergonha e opressão do domínio estrangeiro.
Jeroboão
II deu continuidade à política de expansão militar, quase
restabelecendo todos os limites territoriais de Israel no sentido Leste e
Norte da era de Davi e Salomão (2Rs 14.25,28). A perícia militar e a
estabilidade econômica produzidas sob a liderança capaz de Jeroboão
deram origem à classe de comerciantes ricos em Israel. A riqueza da
monarquia de Jeroboão era demonstrada pelo esplendor arquitetônico, luxo
e fartura agrícola.
Mas
a prosperidade econômica e a segurança política que a nação
experimentou durante o reinado de Jeroboão II (793-753 a.C.), foram
seguidas de um período de caos político e social e de declínio religioso
sob os seis reis seguintes que reinaram por um período total de vinte e
cinco anos (2Rs 15.8 – 17.41). Quatro desses reis foram assassinados
por aqueles que usurparam seus tronos (Zacarias, Salum, Pecaías e Peca);
o rei Oséias tornou-se prisioneiro político (2Rs 17.3-4); apenas Menaém
foi sucedido por seu filho (2Rs 15.23).
A
Assíria expandia-se em direção a oeste, e Menaém aceitou essa potencia
mundial como seu senhor feudal pagando-lhe tributo (2Rs 15.19,20), mas
pouco depois em 733 a.C., Israel foi desmembrado pela Assíria por causa
da intriga de Peca, que usurpou o trono de Israel assassinando Pecaías,
filho e sucessor de Menaém. Somente os territórios de Efraim e de
Manasses ocidental sobraram para o rei de Israel. Depois por causa da
deslealdade do rei Oséias (sucessor de Peca), Samaria foi conquistada, e
seu habitantes exilados em 722-721, causando assim o fim do Reino do
Norte.
COMPOSIÇÃO DO LIVRO
As referencias a Judá são consideradas “intrusas” na mensagem de Oséias, pois ele era um profeta no Reino do Norte, Israel. No entanto outros profetas pré-exílicos como Amós e Isaías também mencionam Israel, mesmo pertencendo a Judá (Am 2.4-8; Is 5.7; 48.1). A eliminação dos versículos sobre Judá prejudicaria a compreensão das passagens no contexto mais amplo. Também danificaria o paralelismo da parelha poética de Judá/Efraim ou Israel. Além disso, a maioria das citações descreve Judá de forma desfavorável e não condiz com a idéia de que esses versículos foram acréscimos posteriores de um organizador “pró-Judá”, cujo propósito incluía enaltecer a posição de Judá em relação a Israel.
CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS
O livro de Oséias não foi escrito para contar a história de Oséias, mas para falar sobre Deus e seu relacionamento com o povo da aliança, Israel. Deus enfatiza sua singularidade e soberania (12.19; 13.4). Por causa de sua santidade peculiar (11.9), adorá-lo é a única resposta apropriada (3.5) e ele não tolera exigências rivais. Como soberano tudo está sob seu governo, seja a fertilidade (2.8), a história de Israel (5.14-15) ou as nações (10.10).
A
narrativa do relacionamento conjugal de Oséias com a prostituta Gômer
nos capítulos 1 – 3 contem biografia e autobiografia. Estes capítulos
servem de prefácio às profecias dos capítulos 4 – 14. A história do
casamento é disposta no padrão literário conhecido tecnicamente por
palístrofe. Essa estrutura equilibra assuntos teológicos importantes
voltados a um ensinamento ou idéia fundamental. A falta de conhecimento
de Deus por parte de Israel é a “junta” desta construção literária.
As
profecias dos capítulos 4 – 14 constituem a extensão biográfica do
casamento de Oséias, no sentido de que a união com a prostituta infiel,
Gômer, espelhava o relacionamento da aliança de Deus fiel com o Israel
desleal. Essa parte de Oséias foi considerada a mais poética de todas as
escrituras proféticas. O estilo literário é uma mistura de prosa e
poesia chamada “prosa oracular”, característica dos profetas hebreus.
O
esboço de quatro pontos, característico dos profetas escritores
pré-exílicos, contém oráculos e fornece a estrutura básica da mensagem
do livro:
1. Acusação, incluindo denuncias específicas de violação à aliança (4.1-11).
2. Julgamento, incluindo destruição e exílio (5.10-8 14).
3. Instrução, incluindo convite ao arrependimento (6.1-3).
4. Conseqüências, incluindo a promessa de restauração dos justos (14.1-8)
A
linguagem do texto de Oséias origina-se do tema da violação da aliança
refletida na ação de Deus contra Israel. A terminologia legal é
abundante nas profecias, à medida que Jeová apresenta sua causa contra a
nação. Outros aspectos literários peculiares do livro incluem “Israel” e
“Efraim” como parelha poética sinônima ou par de palavras referente ao
Reino do Norte (4.16-17; 5.3) e o conhecimento do profeta do vocabulário
relativo à aliança, por exemplo: voltemos (6.1), conheçamos (6.3),
redimi-los (7.13), quebraram, aliança e Lei (8.1), amei (11.1) e
acusação (12.2).
A MENSAGEM DE OSÉIAS
A
primeira parte do livro, do capítulo de 1 ao 3, narra a vida familiar
de Oséias, como símbolo para transmitir a mensagem que o profeta
recebera do Senhor para o povo. Deus ordenou a Oséias que se casasse com
uma adúltera, Gômer, e cada um de seus filhos recebeu nome simbólico
que representava parte da mensagem ameaçadora.
O
capítulo 2, alterna entre o relacionamento de Oséias com Gômer e a
representação simbólica do relacionamento de Deus com Israel. Os filhos
recebem ordens de expulsar de casa a mãe infiel; mas a intenção era
reformá-la, não livrar-se dela. Deus ordena que o profeta continue
marido, e ele a aceita de volta, mantendo-a em isolamento por algum
tempo (cap. 3). Este caso representa de modo pitoresco o relacionamento
entre o Senhor e os israelitas que tinham sido desleais a Ele ao
adorarem as deidades cananéias como fonte de fartura. O Senhor, porém,
continuava amando o povo da aliança e ansiava recebê-los de volta como
Oséias recebera sua esposa. Essa volta é relatada numa linguagem
figurada que relembra o êxodo do Egito e o estabelecimento de Canaã
(1.12; 2.14-23; 3.5; 11.10; 14.4-7).
A
segunda parte do livro dos capítulos 4 a 14, oferece os pormenores do
envolvimento de Israel na religião de Canaã. Assim como os demais livros
proféticos, Oséias transmite um convite ao arrependimento. Israel para
não ser destruído, devia abandonar os ídolos e voltar-se para o Senhor
(cap. 6 e 14).
Oséias
percebeu que o problema básico de Israel era não reconhecer devidamente
a Deus (4.6; 13.4). O relacionamento entre Deus e Israel era de amor
(2.19; 4.1; 6.6; 10.12; 12.6). A intimidade pactual entre Deus e Israel,
ilustra a primeira parte do livro pelo relacionamento conjugal, é mais
tarde ampliada da relação pai – filho (11.1-4). A deslealdade para com
Deus significava adultério espiritual (4.13,14; 5.4; 9.1). Israel
volta-se para o culto a Baal e oferecera sacrifícios nos altos pagãos, o
que significava intimidade com as prostitutas cultuais dos santuários
(4.14), bem como adoração do bezerro de Samaria (8.5; 10.5-6; 13.2).
Outro
importante tema do livro centraliza-se no significado de “conhecer” o
Senhor (2.20; 4.1; 5.4; 6.3,6; 13.4). Parece tratar de um termo técnico
para a intimidade, lealdade e obediência. O livro ensina que o
verdadeiro conhecimento de Deus não se resume em possuir informações
corretas a respeito dele, mas inclui a intimidade típica do casamento e
da vida em família, intimidade que se evidencia na adoração, no estilo
de vida e na lealdade ao Senhor Deus da aliança. Oséias também adverte
que o pecado pode iludir o povo, levado-o a pensar que conhece e
compreende a Deus, quando na verdade, estão muito distante dele (8.2)
Uma
polêmica contra o sincretismo religioso também difunde-se pelo livro
(2.2-13; 4.10-19; 5.4; 9.1-10). Repetidas vezes Oséias aponta para o
pecado do Reino do Norte de tentar unir a adoração ao Senhor Deus com a
religião Cananéia e sua deificação do sexo e da natureza.
Para
o profeta, a prostituição de Israel tinha duplo sentido. Além de estar
cometendo adultério espiritual contra Deus ao buscar a Baal (7.16) o
povo também se prostituía nos atos sexuais associados aos ritos dos
cultos de fertilidade dos cananeus (4.13-15). Sem saber se podia confiar
em Deus para obter chuva necessária para a vida na Palestina, Israel
decidiu misturar javismo e baalismo em uma religião sincretista, mas
isso fracassou. Ironicamente a sentença divina sobre a nação atingiu o
que eram mais sagrados para o culto a Baal: fartura agrícola (8.7-10),
prosperidade material (9.1-4); vitalidade sexual e fertilidade
(9.10-17), templos altares e ídolos (10.1-6) e poder militar (10.9-15).
A
impossibilidade de união entre Deus e o pecado adverte a igreja a
permanecer fiel mesmo em meio a uma cultura que encoraja o compromisso e
a aceitação de princípios e crenças incompatíveis com a doutrina
bíblica. Além disso, a descrição realista de Oséias sobre o pecado
lembra os crentes da natureza e das conseqüências do pecado humano que
incorre em julgamento divino (9.9; 13.12); causa graves crises na
natureza e na sociedade (4.3) e corrompe a personalidade humana. O povo
se torna semelhante aquilo que ama (9.10).
A
mensagem do profeta é intensificada pelo efetivo uso que faz das
ilustrações. As metáforas mais intensas e de maior extensão derivam-se
da experiência humana da intimidade. Oséias retrata o relacionamento
entre Deus e seu povo. Em outras figuras Deus é comparado com a traça e
com a podridão (5.12), com a chuva serôdia (6.3), com um leão (5.14;
11.10; 13.7-8), com um leopardo (13.7), com uma ursa (13.8) e com um
cipreste (14.8).
COMO INTERPRETAR OS ACONTECIMENTOS NA VIDA DE OSÉIAS
A
questão de como interpretar os acontecimentos pessoais da vida de
Oséias, que fazem um paralelo simbólico à sua mensagem profética, tem
deixado perplexos os estudiosos do livro de Oséias. Os detalhes sobre a
vida familiar de Oséias nos capítulos 1 e 3 devem ser compreendidos como
literais ou alegóricos?
-
Há estudiosos que interpretam esses detalhes da vida conjugal de Oséias
como alegóricos, por causa da perplexidade moral que viria a causar a
ordem de Deus para o profeta casar-se com uma prostituta.
-
Existem estudiosos que argumentam que a ordem de Deus no capítulo 2 e
versículo 1 se refere ao futuro. Raciocinam que Gômer tenha se tornado
uma prostituta apenas após o nascimento do primeiro filho.
-
Há ainda os que defendem uma leitura literal modificada, argumentando
que Gômer não era uma prostituta comum, mas uma mulher envolvida com a
prostituição cultual dos adoradores de Baal.
De
forma semelhante tem-se questionado sobre os filhos de Oséias. Seus
nomes, como os filhos nascidos de Isaías com a profetisa (Is 8.1-4), tem
a intenção de dar um significado apenas simbólico (Is 7.3; Ez 23). Os
nomes dados aos filhos de Oséias: Jezreel, Lo-Ruama, que significa
desfavorecida; Lo-Ami, que significa vós não sois meu povo. Ilustram
propositadamente a mensagem sobre o crescente descontentamento de Deus
com a desobediência de Israel, mas também transmitem a mensagem de
esperança, renovação, amor e restauração.
Um
problema semelhante surge na relação entre o cap. 1, que apresenta um
relato na terceira pessoa sobre o casamento de Oséias com Gômer e o
nascimento de seus filhos, e o cap. 3 que apresenta um relato na
primeira pessoa das instruções de Deus a Oséias quanto a amar uma mulher
infiel. Embora esses capítulos tenham sido mais freqüentemente
considerados como um relato cronologicamente seqüencial de um único
casamento, alguns argumentam que duas mulheres e dois casamentos
diferentes são descritos nesses capítulos. Outros sugerem que os
capítulos não estão em seqüência, mas antes descrevem o mesmo
acontecimento.
Por
traz desses pontos de vista diferentes estão dificuldades textuais e da
tradução do texto hebraico. Por exemplo, a expressão “outra vez” em 3.1
se encontra entre “disse” e “vai” no hebraico, e poderia significar “O
Senhor disse outra vez” ou “O Senhor disse: vai outra vez”. Embora as
discussões continuem o significado profundo do casamento do profeta como
um retrato do relacionamento de Deus com Israel é bastante claro.
SINOPSE
SEÇÃO I – A apostasia de Israel simbolizada pela experiência do profeta em seu matrimônio, caps. 1 – 3.
SEÇÃO
II – Discursos proféticos são principalmente descrições da reincidência
e da idolatria do povo, mesclado com ameaças e exortações, cap. 14.
LINGUAGEM FIGURADA
Usada para expressar a deplorável condição que se encontrava Israel, como por exemplo:
- Vale de Acor: uma porta de esperança (2.15).
- Com o povo se mistura: já não é uma nação separada e santa (7.8).
- Um bolo que não foi virado: farinha por um lado, expressando fraqueza de coração.
- Estrangeiros que lhe comem a força: debilitado pelas más companhias (7.9).
- E as cãs se espalharam sobre ele: velhice prematura e deterioração inconsciente (7.9).
- Como um vaso que ninguém tem prazer: um vaso inútil ao Senhor (8.8).
- Ele ama a opressão: falta de honradez nos negócios (12.7).
CONCLUSÃO
Oséias,
o profeta do leito de morte de Israel, pois foi o último profeta a se
referir ao Reino do Norte antes do massacre assírio.
Foi
dele a tarefa de despedaçar e matar Israel com palavras de juízo (6.5) e
chamar o povo desviado de volta ao conhecimento de Deus, por meio do
arrependimento e da renovação da aliança.
Oséias foi ousado ao repreender a liderança não só religiosa, mas também a liderança política de Israel (5.1; 6.9; 13.10).
A
despeito da condenação divina e da severidade da linguagem usada para
proclamar o juízo inevitável, o propósito principal do livro é proclamar
a compaixão e o amor de Deus, que não podem abrir mão de Israel.
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