terça-feira, 16 de outubro de 2012

ESTUDO DO LIVRO DO PROFETA OSÉIAS

AUTOR E DATA

Oséias era profeta de Israel, filho de Beeri (1.1), viveu durante a “era de ouro” do reinado de Jeroboão II e segundo uma tradição cristã, pertencia à tribo de Issacar. O nome “Oséias” era comum nos tempos do Antigo Testamento e significa “ajuda” ou “livramento”. O nome é derivado da palavra hebraica que significa “salvação”. “Jesus” ou “Yeshua” é uma forma desse nome (Mt 1.21).
 

O seu livro sugere em muitas particularidades, que Oséias era natural do Reino do Norte/Israel. Foi contemporâneo de Isaías, Amós e Miquéias. Seu ministério começou durante o ministério de Amós ou talvez pouco depois. Sendo natural do Norte, conhecia as más condições existentes em Israel, isso deu peso especial a sua mensagem.

Oséias foi profeta em Israel durante o século VIII a.C., e com a possível exceção de Jonas, foi o único profeta escritor do Reino do Norte.

A prostituição de Israel e a quebra da aliança “conjugal” com Deus, aliadas as ameaças da ofensiva assíria, levaram Oséias a profetizar. Ele deve ter começado seu ministério pouco depois da morte do rei Jeroboão II (753 a.C.). Sua missão no Reino do Norte, provavelmente terminou quando Salmaneser V da Assíria invadiu Israel, saqueou Samaria e deportou mais de 27 mil israelitas para a Mesopotâmia (722 a.C.; conf. 2Rs 17.1-34). É provável que a mensagem de Oséias tenha sido escrita entre a data em que o rei Menaém pagou tributo a Tiglate-Pileser III da Assíria em 739 a.C. (5.13; 8.9; 12.1) e a queda de Samaria em 722 a.C., já que Oséias não menciona este acontecimento. Se Oséias está fazendo alusão ao conflito siro-eframita de 735-734 a.C., nas passagens de 5.8 a 6.6, isso pode ajudar a especificar a data da composição do livro.

Deus mandou Oséias se casar com uma prostituta chamada Gômer, filha de Diblaim. Oséias foi pai de três filhos da infidelidade de Gômer – Jezreel, Lo-Ruama e Lo-Ami. As circunstancias do casamento de Oséias são essenciais para seu ministério profético, já que o comportamento de sua esposa simbolizava o adultério de Israel e a quebra da aliança com Javé.

O livro de Oséias é o primeiro da coleção de obras proféticas mais curtas, denominada “Os Doze” na Bíblia hebraica. Atualmente os doze livros são chamados de Profetas Menores. Estes livros estão em ordem quase cronológica, das quais Oséias, Amós, Jonas e Miquéias situam-se no começo do Período Neo-Assírio (meados e final do século VIII a.C.). Naum, Habacuque, Sofonias e Obadias são datados do período neobabilônico (final do século VII a.C.). Os outros, Joel, Ageu, Zacarias e Malaquias, são considerados profetas do Período Persa (500 a.C.).

ESFERA DE AÇÃO

Os acontecimentos históricos a que se refere o livro de Oséias cobrem um período de mais ou menos 60 anos.

CONTEXTO DA ÉPOCA

O reinado de Jeroboão II é considerado, muitas vezes como a era de ouro do Reino do Norte. A base para o renascimento político e econômico da nação foi lançada pelo pai de Jeroboão, Jeoás. Antes Jeoás havia liderado três campanhas militares bem-sucedidas contra os sírios ou arameus (2Rs 13.25), libertando Israel da vergonha e opressão do domínio estrangeiro.

Jeroboão II deu continuidade à política de expansão militar, quase restabelecendo todos os limites territoriais de Israel no sentido Leste e Norte da era de Davi e Salomão (2Rs 14.25,28). A perícia militar e a estabilidade econômica produzidas sob a liderança capaz de Jeroboão deram origem à classe de comerciantes ricos em Israel. A riqueza da monarquia de Jeroboão era demonstrada pelo esplendor arquitetônico, luxo e fartura agrícola.

Mas a prosperidade econômica e a segurança política que a nação experimentou durante o reinado de Jeroboão II (793-753 a.C.), foram seguidas de um período de caos político e social e de declínio religioso sob os seis reis seguintes que reinaram por um período total de vinte e cinco anos (2Rs 15.8 – 17.41). Quatro desses reis foram assassinados por aqueles que usurparam seus tronos (Zacarias, Salum, Pecaías e Peca); o rei Oséias tornou-se prisioneiro político (2Rs 17.3-4); apenas Menaém foi sucedido por seu filho (2Rs 15.23).

A Assíria expandia-se em direção a oeste, e Menaém aceitou essa potencia mundial como seu senhor feudal pagando-lhe tributo (2Rs 15.19,20), mas pouco depois em 733 a.C., Israel foi desmembrado pela Assíria por causa da intriga de Peca, que usurpou o trono de Israel assassinando Pecaías, filho e sucessor de Menaém. Somente os territórios de Efraim e de Manasses ocidental sobraram para o rei de Israel. Depois por causa da deslealdade do rei Oséias (sucessor de Peca), Samaria foi conquistada, e seu habitantes exilados em 722-721, causando assim o fim do Reino do Norte.

COMPOSIÇÃO DO LIVRO

As referencias a Judá são consideradas “intrusas” na mensagem de Oséias, pois ele era um profeta no Reino do Norte, Israel. No entanto outros profetas pré-exílicos como Amós e Isaías também mencionam Israel, mesmo pertencendo a Judá (Am 2.4-8; Is 5.7; 48.1). A eliminação dos versículos sobre Judá prejudicaria a compreensão das passagens no contexto mais amplo. Também danificaria o paralelismo da parelha poética de Judá/Efraim ou Israel. Além disso, a maioria das citações descreve Judá de forma desfavorável e não condiz com a idéia de que esses versículos foram acréscimos posteriores de um organizador “pró-Judá”, cujo propósito incluía enaltecer a posição de Judá em relação a Israel.

CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS

O livro de Oséias não foi escrito para contar a história de Oséias, mas para falar sobre Deus e seu relacionamento com o povo da aliança, Israel. Deus enfatiza sua singularidade e soberania (12.19; 13.4). Por causa de sua santidade peculiar (11.9), adorá-lo é a única resposta apropriada (3.5) e ele não tolera exigências rivais. Como soberano tudo está sob seu governo, seja a fertilidade (2.8), a história de Israel (5.14-15) ou as nações (10.10).

A narrativa do relacionamento conjugal de Oséias com a prostituta Gômer nos capítulos 1 – 3 contem biografia e autobiografia. Estes capítulos servem de prefácio às profecias dos capítulos 4 – 14. A história do casamento é disposta no padrão literário conhecido tecnicamente por palístrofe. Essa estrutura equilibra assuntos teológicos importantes voltados a um ensinamento ou idéia fundamental. A falta de conhecimento de Deus por parte de Israel é a “junta” desta construção literária.

As profecias dos capítulos 4 – 14 constituem a extensão biográfica do casamento de Oséias, no sentido de que a união com a prostituta infiel, Gômer, espelhava o relacionamento da aliança de Deus fiel com o Israel desleal. Essa parte de Oséias foi considerada a mais poética de todas as escrituras proféticas. O estilo literário é uma mistura de prosa e poesia chamada “prosa oracular”, característica dos profetas hebreus.

O esboço de quatro pontos, característico dos profetas escritores pré-exílicos, contém oráculos e fornece a estrutura básica da mensagem do livro:

1.     Acusação, incluindo denuncias específicas de violação à aliança (4.1-11).
2.     Julgamento, incluindo destruição e exílio (5.10-8 14).
3.     Instrução, incluindo convite ao arrependimento (6.1-3).
4.     Conseqüências, incluindo a promessa de restauração dos justos (14.1-8)

A linguagem do texto de Oséias origina-se do tema da violação da aliança refletida na ação de Deus contra Israel. A terminologia legal é abundante nas profecias, à medida que Jeová apresenta sua causa contra a nação. Outros aspectos literários peculiares do livro incluem “Israel” e “Efraim” como parelha poética sinônima ou par de palavras referente ao Reino do Norte (4.16-17; 5.3) e o conhecimento do profeta do vocabulário relativo à aliança, por exemplo: voltemos (6.1), conheçamos (6.3), redimi-los (7.13), quebraram, aliança e Lei (8.1), amei (11.1) e acusação (12.2).
A MENSAGEM DE OSÉIAS
A primeira parte do livro, do capítulo de 1 ao 3, narra a vida familiar de Oséias, como símbolo para transmitir a mensagem que o profeta recebera do Senhor para o povo. Deus ordenou a Oséias que se casasse com uma adúltera, Gômer, e cada um de seus filhos recebeu nome simbólico que representava parte da mensagem ameaçadora.

O capítulo 2, alterna entre o relacionamento de Oséias com Gômer e a representação simbólica do relacionamento de Deus com Israel. Os filhos recebem ordens de expulsar de casa a mãe infiel; mas a intenção era reformá-la, não livrar-se dela. Deus ordena que o profeta continue marido, e ele a aceita de volta, mantendo-a em isolamento por algum tempo (cap. 3). Este caso representa de modo pitoresco o relacionamento entre o Senhor e os israelitas que tinham sido desleais a Ele ao adorarem as deidades cananéias como fonte de fartura. O Senhor, porém, continuava amando o povo da aliança e ansiava recebê-los de volta como Oséias recebera sua esposa. Essa volta é relatada numa linguagem figurada que relembra o êxodo do Egito e o estabelecimento de Canaã (1.12; 2.14-23; 3.5; 11.10; 14.4-7).
A segunda parte do livro dos capítulos 4 a 14, oferece os pormenores do envolvimento de Israel na religião de Canaã. Assim como os demais livros proféticos, Oséias transmite um convite ao arrependimento. Israel para não ser destruído, devia abandonar os ídolos e voltar-se para o Senhor (cap. 6 e 14).
Oséias percebeu que o problema básico de Israel era não reconhecer devidamente a Deus (4.6; 13.4). O relacionamento entre Deus e Israel era de amor (2.19; 4.1; 6.6; 10.12; 12.6). A intimidade pactual entre Deus e Israel, ilustra a primeira parte do livro pelo relacionamento conjugal, é mais tarde ampliada da relação pai – filho (11.1-4). A deslealdade para com Deus significava adultério espiritual (4.13,14; 5.4; 9.1). Israel volta-se para o culto a Baal e oferecera sacrifícios nos altos pagãos, o que significava intimidade com as prostitutas cultuais dos santuários (4.14), bem como adoração do bezerro de Samaria (8.5; 10.5-6; 13.2).
Outro importante tema do livro centraliza-se no significado de “conhecer” o Senhor (2.20; 4.1; 5.4; 6.3,6; 13.4). Parece tratar de um termo técnico para a intimidade, lealdade e obediência. O livro ensina que o verdadeiro conhecimento de Deus não se resume em possuir informações corretas a respeito dele, mas inclui a intimidade típica do casamento e da vida em família, intimidade que se evidencia na adoração, no estilo de vida e na lealdade ao Senhor Deus da aliança. Oséias também adverte que o pecado pode iludir o povo, levado-o a pensar que conhece e compreende a Deus, quando na verdade, estão muito distante dele (8.2)
Uma polêmica contra o sincretismo religioso também difunde-se pelo livro (2.2-13; 4.10-19; 5.4; 9.1-10). Repetidas vezes Oséias aponta para o pecado do Reino do Norte de tentar unir a adoração ao Senhor Deus com a religião Cananéia e sua deificação do sexo e da natureza.
Para o profeta, a prostituição de Israel tinha duplo sentido. Além de estar cometendo adultério espiritual contra Deus ao buscar a Baal (7.16) o povo também se prostituía nos atos sexuais associados aos ritos dos cultos de fertilidade dos cananeus (4.13-15). Sem saber se podia confiar em Deus para obter chuva necessária para a vida na Palestina, Israel decidiu misturar javismo e baalismo em uma religião sincretista, mas isso fracassou. Ironicamente a sentença divina sobre a nação atingiu o que eram mais sagrados para o culto a Baal: fartura agrícola (8.7-10), prosperidade material (9.1-4); vitalidade sexual e fertilidade (9.10-17), templos altares e ídolos (10.1-6) e poder militar (10.9-15).
A impossibilidade de união entre Deus e o pecado adverte a igreja a permanecer fiel mesmo em meio a uma cultura que encoraja o compromisso e a aceitação de princípios e crenças incompatíveis com a doutrina bíblica. Além disso, a descrição realista de Oséias sobre o pecado lembra os crentes da natureza e das conseqüências do pecado humano que incorre em julgamento divino (9.9; 13.12); causa graves crises na natureza e na sociedade (4.3) e corrompe a personalidade humana. O povo se torna semelhante aquilo que ama (9.10).
A mensagem do profeta é intensificada pelo efetivo uso que faz das ilustrações. As metáforas mais intensas e de maior extensão derivam-se da experiência humana da intimidade. Oséias retrata o relacionamento entre Deus e seu povo. Em outras figuras Deus é comparado com a traça e com a podridão (5.12), com a chuva serôdia (6.3), com um leão (5.14; 11.10; 13.7-8), com um leopardo (13.7), com uma ursa (13.8) e com um cipreste (14.8).
COMO INTERPRETAR OS ACONTECIMENTOS NA VIDA DE OSÉIAS
A questão de como interpretar os acontecimentos pessoais da vida de Oséias, que fazem um paralelo simbólico à sua mensagem profética, tem deixado perplexos os estudiosos do livro de Oséias. Os detalhes sobre a vida familiar de Oséias nos capítulos 1 e 3 devem ser compreendidos como literais ou alegóricos?
- Há estudiosos que interpretam esses detalhes da vida conjugal de Oséias como alegóricos, por causa da perplexidade moral que viria a causar a ordem de Deus para o profeta casar-se com uma prostituta.
- Existem estudiosos que argumentam que a ordem de Deus no capítulo 2 e versículo 1 se refere ao futuro. Raciocinam que Gômer tenha se tornado uma prostituta apenas após o nascimento do primeiro filho.
- Há ainda os que defendem uma leitura literal modificada, argumentando que Gômer não era uma prostituta comum, mas uma mulher envolvida com a prostituição cultual dos adoradores de Baal.
De forma semelhante tem-se questionado sobre os filhos de Oséias. Seus nomes, como os filhos nascidos de Isaías com a profetisa (Is 8.1-4), tem a intenção de dar um significado apenas simbólico (Is 7.3; Ez 23). Os nomes dados aos filhos de Oséias: Jezreel, Lo-Ruama, que significa desfavorecida; Lo-Ami, que significa vós não sois meu povo. Ilustram propositadamente a mensagem sobre o crescente descontentamento de Deus com a desobediência de Israel, mas também transmitem a mensagem de esperança, renovação, amor e restauração.
Um problema semelhante surge na relação entre o cap. 1, que apresenta um relato na terceira pessoa sobre o casamento de Oséias com Gômer e o nascimento de seus filhos, e o cap. 3 que apresenta um relato na primeira pessoa das instruções de Deus a Oséias quanto a amar uma mulher infiel. Embora esses capítulos tenham sido mais freqüentemente considerados como um relato cronologicamente seqüencial de um único casamento, alguns argumentam que duas mulheres e dois casamentos diferentes são descritos nesses capítulos. Outros sugerem que os capítulos não estão em seqüência, mas antes descrevem o mesmo acontecimento.
Por traz desses pontos de vista diferentes estão dificuldades textuais e da tradução do texto hebraico. Por exemplo, a expressão “outra vez” em 3.1 se encontra entre “disse” e “vai” no hebraico, e poderia significar “O Senhor disse outra vez” ou “O Senhor disse: vai outra vez”. Embora as discussões continuem o significado profundo do casamento do profeta como um retrato do relacionamento de Deus com Israel é bastante claro.        
SINOPSE
SEÇÃO I – A apostasia de Israel simbolizada pela experiência do profeta em seu matrimônio, caps. 1 – 3.
SEÇÃO II – Discursos proféticos são principalmente descrições da reincidência e da idolatria do povo, mesclado com ameaças e exortações, cap. 14.
LINGUAGEM FIGURADA
 Usada para expressar a deplorável condição que se encontrava Israel, como por exemplo:
- Vale de Acor: uma porta de esperança (2.15).
- Com o povo se mistura: já não é uma nação separada e santa (7.8).
- Um bolo que não foi virado: farinha por um lado, expressando fraqueza de coração.
- Estrangeiros que lhe comem a força: debilitado pelas más companhias (7.9).
- E as cãs se espalharam sobre ele: velhice prematura e deterioração inconsciente (7.9).
- Como um vaso que ninguém tem prazer: um vaso inútil ao Senhor (8.8).
- Ele ama a opressão: falta de honradez nos negócios (12.7).
CONCLUSÃO
Oséias, o profeta do leito de morte de Israel, pois foi o último profeta a se referir ao Reino do Norte antes do massacre assírio.
Foi dele a tarefa de despedaçar e matar Israel com palavras de juízo (6.5) e chamar o povo desviado de volta ao conhecimento de Deus, por meio do arrependimento e da renovação da aliança.
Oséias foi ousado ao repreender a liderança não só religiosa, mas também a liderança política de Israel (5.1; 6.9; 13.10).
A despeito da condenação divina e da severidade da linguagem usada para proclamar o juízo inevitável, o propósito principal do livro é proclamar a compaixão e o amor de Deus, que não podem abrir mão de Israel.

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