Em
330 Constantino inaugurou a nova capital do império. No breve lapso de
um quinquênio, a antiga vila de Bizâncio transformou-se na majestosa
Constantinopla, também chamada de Nova Roma.
Um
dos locais prediletos de residência e governo do imperador era a
pequena cidade de Nicéia, perto de Constantinopla. Ali o imperador e sua
corte administravam os assuntos da Igreja e do império do Oriente.
Quando estava no Ocidente, Constantino morou em Milão, no norte da
Itália. Roma ficou praticamente abandonada pela corte imperial. Foi em
Nicéia que o imperador convocou os bispos da Igreja para resolver o
debate a respeito da pessoa de Cristo e da Trindade.
O ARIANISMO
Ário
era um bispo em Alexandria que negou que Cristo fosse Deus. Ário
ensinava que Jesus era divino, mas de uma divindade subordinada ao Pai.
Segundo Ário, Jesus era um homem que não tinha uma alma humana, já que
em seu caso a alma tinha sido substituída pelo “Logos”, ou seja, o Verbo
de Deus. Esse “Logos” ou Verbo era um ser espiritual criado por Deus
para habitar no homem Jesus. Assim sendo, em essência Ário negou tanto a
humanidade de Jesus, já que ele não tinha uma alma humana, negando
também sua verdadeira Deidade.
Ário era um pregador dinâmico e famoso, tendo uma personalidade atraente. Ele inventou um slogan sobre Cristo “houve um tempo quando ele não existia”, que se tornou famoso. Seus ensinamentos logo causaram consternação no império. Alguns bispos o condenavam como heterodoxo e herege. Outros o defendiam. Houve conflitos nas ruas, especialmente em Alexandria, e muitos morreram defendendo suas crenças.
O CONCÍLIO DE NICÉIA
O
principal opositor dessa doutrina foi Atanásio, também de Alexandria.
Atanásio afirmava a unidade do Filho com o Pai, a divindade de Cristo e
sua existência eterna. A contenda estendeu-se por toda a igreja. Depois
de Constantino ter feito de tudo para solucionar a questão, sem obter
êxito, convocou então, um concílio de bispos, o qual se reuniu em
Nicéia, Bitínia, no ano de 325.
O
concílio durou aproximadamente dois meses e tratou de muitas questões
que confrontavam a Igreja. Aproximadamente vinte “cânones” ou decretos
distintos foram promulgados pelo imperador e pelos bispos, que variavam
desde a deposição de bispos relapsos até a ordenação de eunucos. Além
disso, o bispo de Alexandria foi declarado “patriarca” dos bispos das
regiões da África do Norte e arredores, e o bispo de Roma o legítimo
líder emérito dos bispos ocidentais. O imperador conclamara o concílio
para dirimir a controvérsia ariana, e era a respeito dela que os bispos
mais queriam falar.
Dos
318 bispos presentes na abertura do concílio, somente 28 eram
abertamente declarados arianos. O próprio Ário não recebeu permissão
para participar do concílio por não ser bispo. Foi representado por
Eusébio de Nicomédia e Teogno de Nicéia. Alexandre de Alexandria dirigiu
o processo jurídico “Ário e o arianismo” e foi auxiliado por seu jovem
assistente Atanásio, que viria a sucedê-lo no bispado de Alexandria
poucos anos depois. Atanásio, que então era apenas diácono, teve direito
de falar, mas não votar. Apesar dessa circunstancia, conseguiu que a
maioria do concílio condenasse as doutrinas de Ário, no credo de Nicéia.
Contudo
Ário estava politicamente bem amparado. Suas opiniões eram sustentadas
por muitos membros influentes pertencentes às classes elevadas,
inclusive pelo filho e sucessor de Constantino.
ATANÁSIO CONTRA O MUNDO
Atanásio
se tornou bispo de Alexandria em 328. Em 335, pressões políticas tinham
convencido o imperador Constantino a readmitir Ário para a comunhão da
Igreja. Entretanto, de acordo com as resoluções sobre o governo
eclesiástico definidas em Nicéia, somente o bispo de Alexandria poderia
readmitir uma pessoa excomungada em sua jurisdição. Essa pessoa, no
caso, era Atanásio, e ele se recusou a readmitir Ário. Como resultado,
Constantino depôs Atanásio e o baniu de Alexandria.
Constantino morreu dois anos depois, em 337.
Atanásio, o grande defensor da fé ortodoxa, passou os próximos anos de sua vida sendo repetidamente banido e readmitido por diferentes imperadores, de acordo com os ventos políticos de cada momento. Ele passou muitos anos escondido em desertos e cavernas do Egito.
Atanásio produziu muitos documentos e tratados teológicos, mesmo sendo foragido, e defendeu a ortodoxia até o dia de sua morte.
Quando
um amigo de Atanásio lhe disse: “Atanásio, o mundo está contra ti”, ele
respondeu: “Assim seja, Atanásio contra o mundo”. Os últimos sete anos,
Atanásio passou-os em Alexandria, onde morreu no ano de 373.
Suas
ideias, muito depois de sua morte, foram vitoriosas e aceitas por toda a
igreja, tanto no Oriente como no Ocidente. Foram consubstanciadas no
Credo de Atanásio, que durante algum tempo se acreditava haver sido
escrito por ele. Porém mais tarde descobriu-se que outra pessoa o
escreveu.
O FIM DO HEREJE
O
novo bispo de Alexandria convocou um sínodo para a reversão da
excomunhão e reinstalação de Ário, agora como bispo. Na noite anterior à
cerimônia, Ário morreu de causas naturais, o que muitos cristãos viram
como sendo o julgamento de Deus sobre o herege.O FIM DO HEREJE
FONTE:
História da Igreja Cristã – Jesse Lyman Hurlbut – Ed. Vida
Módulo 4 de Teologia da FTB
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